sábado, 4 de junho de 2011

Dormidas, cochilo, sono e afins...

Um assunto recorrente aqui em casa tem sido o sono. O excesso que Karol e eu temos sentido e a pouca presença desse em nossa filhinha. Sim, Amélie já tem mais de um ano e ainda não dorme uma noite inteira.

Diante disso, já tentamos diversas estratégias. Ah, é fome! Afirmaram algumas pesquisas. Passamos a dar mais comida pra menina e nada. Ah, é cochilo durante o dia. Nada também. Com cochilos ou sem cochilos, as noites continuaram movimentadas.

A partir dessas “aventuras”, passamos a ler muito sobre o assunto. E veio a tona uma discussão que achei conveniente apresentar por aqui. Uma das técnicas mais modernas, de forte influência da cultura acelerada e individualizada de nossos tempos, é a ideia do auto acalentar. A defesa é a partir da constatação que a criança começa a “manipular” os adultos para obter aquilo que deseja: atenção. Para evitar esse “mal”, a solução seria deixar a criança no berço, chorando indiscriminadamente até que ela se acalme sozinha e acabe dormindo.

Bom, empiricamente eu já me declarei contra essa proposta. Não que eu ache que as criancinhas sejam totalmente inocentes, mas não consigo ver sentido em deixar um bebê se acabando só para que ele “constate que a vida é dura”. Ou, como minha avó defende: “pra criança não ficar manhosa!”

No meu entendimento, esse pensamento reflete um relativo egoísmo e necessidade de expressão da individualidade daqueles responsáveis (!?) pelo pequeno. Não há alternativa: você é pai ou mãe? Quer ser participante ativo da boa formação de seu filhote? Então disparo uma constatação: dedique-se a abdicar. Isso mesmo. Você não manda mais plenamente em sua vida. Existe alguém nesse mundo, em acelerado processo de aprendizagem e formação de sua psique e valores, que depende de você, suas ações e dedicação. E sim, aquilo que você faz vai influenciar diretamente no adulto que ele se tornará.

Se a ideia é deixar que a criança constate a dureza da vida, é bem possível que ela realmente o faça. Segundo alguns entendimentos – científicos e não meus – a criança exposta repetidamente ao auto-acalentar acaba buscando formas de se acalentar também na vida adulta, se dedicando, por exemplo, a bebida, ao cigarro e a relacionamentos auto-destrutivos e de pouca dedicação mútua.

Uma recente pesquisa, da Universidade de Notre Dame (http://veja.abril.com.br/noticia/educacao/homens-das-cavernas-eram-melhores-pais), liderada pela psicóloga Darcia Narvaez, concluiu que os pais de hoje estão formando uma geração inteira de pessoas disfuncionais por adotarem técnicas modernas – deixar bebês chorando por longos períodos, por exemplo.

E, segundo uma fala da psicóloga, descrita no link acima:
"Crianças que não são nutridas emocionalmente por seus pais no começo de suas vidas tendem a ser mais egocêntricas. Elas não possuem os mesmos sentimentos de compaixão que aquelas educadas por famílias carinhosas e que interagem com os pequenos".

Enfim, diante do contexto, eu e Karol temos experimentado a tal da cama compartilhada. A ideia é botar a Amélie pra dormir com a gente. Não o tempo todo, evidente. Mas o momento de pegar no sono e uma ou outra acordada mais agoniada no meio da noite. Os mais esbaforidos, afoitos amigos da “modernidade”, condenariam de forma veemente tal ato, mas creio que temos sido bem sucedidos. Desde então, temos experimentado um contato cada vez mais próximo, amoroso e conectado com nossa filha. Temos percebido também o quanto que ela sente nossa presença e isso ajuda a formar nela a percepção de que pode contar conosco. No momento da agonia, do medo, você leitor não acharia bom ter alguém para lhe acalentar, lhe proteger? Ou então: o que pensaria se não tivesse ninguém junto contigo? E se esse alguém fossem as pessoas mais importantes de sua vida e lhe faltasse no socorro?

Dormindo bem ou não, me questiono – e também a qualquer um que ler esse post: qual será o “prejuízo” que teremos ao perdermos algumas noites de sono? Será que, diante da formação emocional de minha filha, perder algumas poucas noites de sono em troca de passar para ela amor e segurança é um incômodo muito grande? Tenho certeza que não.